Você já parou para ouvir o canto das cigarras em um dia quente de verão? Aquele som vibrante e constante pode até parecer comum hoje em dia… mas e se eu te dissesse que esse “show musical” começou há mais de 47 milhões de anos?
Pois é. Um novo achado surpreendente acaba de ressignificar tudo o que a ciência sabia sobre a origem do canto das cigarras. E se você ama curiosidades científicas, paleontologia ou simplesmente adora o som da natureza, prepare-se: essa história vai te deixar de boca aberta.
O que torna o canto das cigarras tão especial?
Poucos sons naturais são tão reconhecíveis quanto o das cigarras. Elas não só são os insetos mais barulhentos do planeta, como também têm uma das formas mais curiosas de produzir som.
Ao contrário do que muitos pensam, cigarras não cantam com a boca. O som vem de estruturas chamadas tímpanos, localizadas no abdômen dos machos. Eles contraem músculos rapidamente, fazendo as membranas vibrarem. O resultado? Um som poderoso que pode chegar a mais de 100 decibéis — sim, mais alto que uma britadeira!
Mas esse canto tem uma função bem clara: atrair parceiras. Cada espécie tem um “repertório” único, permitindo que as fêmeas escolham parceiros da mesma espécie. É como um Tinder ancestral com trilha sonora ao vivo.
Machos cantam, fêmeas escutam… sempre?
Tradicionalmente, apenas os machos eram conhecidos por cantar. Mas a nova descoberta — como veremos a seguir — pode lançar uma nova luz sobre isso.

A descoberta que mudou tudo: fósseis de 47 milhões de anos
Agora vem a parte que realmente deixa qualquer apaixonado por ciência de queixo caído. Esses fósseis incríveis foram encontrados na famosa Messel Pit, um sítio paleontológico na Alemanha que é praticamente um tesouro para quem estuda a história da vida na Terra. E o que torna essa descoberta tão impressionante é o nível de detalhe que esses fósseis preservam — eles parecem congelados no tempo, guardando segredos de quase 50 milhões de anos atrás!
Onde foram encontrados os fósseis?
Os fósseis estavam enterrados em camadas de xisto betuminoso, um tipo especial de rocha formada a partir de sedimentos finíssimos que conseguem conservar até as estruturas mais delicadas, como as asas transparentes das cigarras. Isso é raro e precioso, porque geralmente fósseis de insetos são fragmentados ou mal preservados. A Messel Pit, aliás, é conhecida por ser uma “máquina do tempo” que captura uma biodiversidade incrível do Eoceno — um período que marcou o começo de muitas formas de vida que conhecemos hoje.
O mais curioso é que esses fósseis estavam guardados desde 1986, quietinhos no Museu Senckenberg, em Frankfurt. Por décadas, ninguém havia dado a devida atenção a eles, até que Hui Jiang, especialista em cigarras cantoras, resolveu dar uma nova olhada nessa coleção antiga. Essa revisão mostrou que estávamos diante de uma espécie nova e surpreendente!
Quem fez a descoberta e por que ela é tão relevante?
Hui Jiang e sua equipe foram os responsáveis por essa reviravolta científica. Ao examinar os fósseis com tecnologia moderna e olhar clínico, eles identificaram a nova espécie Eoplatypleura messelensis.
A parte que realmente mexe com a nossa compreensão da evolução é a data: esses insetos viveram há cerca de 47,2 milhões de anos! Para você ter uma ideia, isso é 17 milhões de anos mais antigo do que o que se acreditava até então sobre o surgimento do canto das cigarras.
Isso significa que essas cigarras ancestrais já estavam “cantando” (ou pelo menos tinham a capacidade de produzir sons) muito antes dos primeiros humanos sequer existirem. Esse achado não só empurra para trás a linha do tempo da evolução desses insetos, como também oferece pistas valiosas sobre como a comunicação sonora evoluiu no mundo animal.
Características únicas da Eoplatypleura messelensis
Além da idade impressionante, as características físicas desses fósseis também são fascinantes. Pertencentes à tribo Platypleurini — um grupo de cigarras modernas que nunca tinha sido identificado em fósseis antes — esses insetos tinham cerca de 26,5 milímetros de comprimento e uma envergadura de asas de 68,2 milímetros. Para você imaginar, é como se fosse uma cigarra do tamanho de uma pequena folha!
E o mais curioso: os fósseis encontrados eram de duas fêmeas adultas. Isso levanta uma hipótese superinteressante para os cientistas: será que, naquele tempo, as fêmeas também produziam sons, ou pelo menos tinham estruturas próximas às dos machos cantores?
Hoje, geralmente só os machos cantam para atrair parceiras ou defender território, mas essas descobertas podem indicar que a história era um pouco diferente há milhões de anos.
Além disso, o fato de as cigarras já estarem presentes na Europa tão cedo desafia a ideia de que elas só se espalharam por essa região após grandes mudanças tectônicas, como a colisão entre África e Eurásia. Ou seja, essa descoberta abre novas portas para entendermos a dispersão geográfica e adaptação desses insetos ao longo da história da Terra.
Antes dessa descoberta, o que se sabia sobre o canto das cigarras?
Antes dessa reviravolta, o conhecimento sobre o canto das cigarras estava meio “travado” no tempo — ou melhor, travado nos fósseis que tínhamos em mãos. Até então, os registros mais antigos indicavam que essas cantoras da natureza começavam sua história sonora “apenas” há cerca de 30 milhões de anos.
Essa estimativa estava alinhada com a ideia de que as cigarras só teriam se espalhado pela Europa e Ásia depois da grande colisão tectônica entre a África e a Eurásia, ocorrida entre 30 e 25 milhões de anos atrás.
Essa hipótese fazia sentido, porque muitos cientistas acreditavam que esse choque entre placas tectônicas teria aberto rotas para a migração e expansão de várias espécies, inclusive das cigarras. Ou seja, tudo indicava que o canto delas — esse som tão característico do verão — teria surgido nesse período, bem depois de muitas outras formas de vida já existirem.

Limitações anteriores dos registros fósseis
O grande problema, porém, é que o registro fóssil das cigarras é uma verdadeira caixinha de surpresas — e nem sempre para o bem dos pesquisadores. Essas criaturinhas têm uma estrutura corporal muito delicada, principalmente as asas e as partes responsáveis pela produção dos sons. Isso faz com que encontrar fósseis completos, que consigam preservar esses detalhes finíssimos, seja algo extremamente raro.
Até agora, os fósseis de cigarras eram quase sempre fragmentados ou pouco claros para estudos aprofundados, especialmente para entender como elas produziam som. Isso limitava bastante o que a ciência conseguia afirmar sobre a origem do canto dessas pequenas estrelas do reino dos insetos.
Por isso, cada novo fóssil de cigarra encontrado é como um verdadeiro tesouro para os cientistas. É uma chance de ouro para aprofundar nossa compreensão sobre a evolução da comunicação sonora — não só das cigarras, mas de toda a fauna que depende dos sons para sobreviver, se reproduzir e se relacionar.
Com a descoberta dos fósseis de 47 milhões de anos, essa “caixinha” ganhou um baú de ouro que promete revolucionar tudo que se sabia até então. Afinal, não é todo dia que conseguimos olhar tão longe no tempo e escutar, mesmo que só na imaginação, o primeiro canto das cigarras.
O que essa descoberta revela sobre a evolução das cigarras?
A Eoplatypleura messelensis não apenas muda a linha do tempo, mas muda o mapa da evolução das cigarras.
A presença desse fóssil na Alemanha, há quase 50 milhões de anos, mostra que as cigarras já estavam presentes na Europa muito antes do previsto. O clima da região na época era parecido com o das florestas tropicais africanas e asiáticas de hoje — com temperaturas médias de 22 °C — o que explicaria o ambiente propício para sua sobrevivência.
Cigarras Platypleurini ainda existem hoje, vivendo principalmente na África e na Ásia. Encontrar fósseis delas tão antigos mostra que essa linhagem já estava bem estabelecida há milhões de anos, e que o comportamento de cantar pode ter se desenvolvido muito antes do imaginado.
Essa descoberta mostra que a comunicação sonora por vibração não é apenas antiga, mas fundamental na evolução de insetos sociais e territoriais. Além disso, ela pode ser o início de toda uma cadeia de sons naturais que inspiram até hoje músicas, mitos e culturas.
Curiosidades incríveis sobre as cigarras e seus sons
Se você achava que cigarras eram só aqueles insetinhos que fazem aquele zzzZZZzzzz no calor, prepare-se para descobrir um universo de fatos fascinantes que vão muito além do barulho típico do verão!
- 1. As cigarras podem atingir o som mais alto entre todos os insetos.
Elas são verdadeiras rock stars do mundo animal, capazes de produzir sons que chegam a até 120 decibéis — algo equivalente ao barulho de um show de rock ou uma sirene de ambulância! Esse volume é tão poderoso que, em alguns casos, pode até assustar predadores ou servir para chamar a atenção de parceiros à distância. É o tipo de som que você não esquece fácil. - 2. Algumas espécies cantam em sincronia, criando ondas sonoras que confundem predadores.
Imagine uma multidão de cigarras cantando ao mesmo tempo — não é só um coro, é quase uma orquestra natural. Elas sincronizam seus cantos para criar um efeito de “muro de som” que desorienta qualquer animal que queira atacá-las. Esse fenômeno é uma estratégia incrível de sobrevivência, mostrando como a natureza é cheia de truques espertos. - 3. Na cultura japonesa, o canto das cigarras é símbolo do verão e do ciclo da vida.
No Japão, o som das cigarras está tão entrelaçado com a cultura que aparece em poemas, músicas e até filmes. O canto delas é associado ao verão intenso, à passagem do tempo e à efemeridade da vida — aquela ideia de aproveitar cada momento antes que passe. Para eles, as cigarras são quase mensageiras que lembram a beleza e a transitoriedade da existência. - 4. Há mitos gregos antigos que descrevem cigarras como seres humanos transformados por deuses.
Na mitologia grega, as cigarras não são apenas insetos barulhentos — elas carregam histórias de transformação e magia. Dizem que certos humanos foram transformados em cigarras como punição ou bênção dos deuses, ganhando o dom do canto eterno. Esses mitos mostram como, desde sempre, o som das cigarras mexeu com a imaginação e o simbolismo humano.
Conclusão: Por que entender o passado das cigarras importa hoje?
A descoberta da Eoplatypleura messelensis não é só um achado de museu. Ela mostra como a natureza guarda histórias escondidas por milhões de anos, prontas para reescrever o que achamos que sabemos.
Além disso, nos faz refletir sobre quantos outros fósseis ainda podem estar dormindo em coleções esquecidas, esperando alguém com curiosidade suficiente para redescobri-los. E claro: nos conecta com um som que, de tão antigo, é quase uma herança acústica da Terra.

Lana Sullivan é apaixonada pela vida em todas as suas formas. Escreve sobre animais, plantas, Oceanos e paleontologia, unindo curiosidade, respeito e encantamento pela natureza. Acredita que cada ser, passado ou presente, tem uma história que merece ser contada.