
Você já se perguntou se os chimpanzés têm uma forma de linguagem parecida com a nossa?
Pois prepare-se: a ciência acaba de dar um passo gigantesco nessa resposta.
Pesquisadores descobriram que os chimpanzés não apenas emitem sons aleatórios — eles combinam vocalizações específicas para formar mensagens complexas. É como se eles usassem frases. Isso muda tudo o que sabemos sobre a origem da linguagem.
Se você é pai, mãe, professor ou educador, continue lendo. Este conteúdo vai abrir portas para conversas fascinantes com as crianças e jovens curiosos sobre como a natureza funciona — e como nós, humanos, não estamos tão distantes dos nossos parentes primatas.
A surpreendente comunicação dos chimpanzés
Sons, gestos e expressões: o alfabeto dos primatas
A linguagem dos chimpanzés vai muito além de simples grunhidos ou barulhos aleatórios. Esses primatas se comunicam através de um repertório complexo de sons guturais, gritos específicos, estalos com a boca, gestos intencionais e expressões faciais altamente codificadas. Em um único grupo, é possível observar variações sutis na forma como eles manifestam emoções como medo, raiva, empolgação ou afeto, usando o corpo e a voz como ferramentas de linguagem.
Ao levantar um braço, bater no peito ou fazer um tipo específico de careta, eles transmitem recados que os outros entendem com clareza — como “me siga”, “cuidado!”, ou até “estou brincando”. Essas mensagens formam uma espécie de alfabeto não verbal, que, mesmo sem palavras, tem gramática, intenção e contexto.
Curiosamente, diferentes populações de chimpanzés desenvolvem “dialetos locais”, ou seja, pequenas variações na entonação e nos gestos, semelhantes a sotaques humanos. Isso mostra que parte da comunicação é aprendida socialmente e não apenas herdada geneticamente.
Diferença entre vocalizações simples e combinações complexas
Durante décadas, a comunidade científica acreditava que os chimpanzés apenas produziam sons isolados, como o clássico grito de alarme ao avistar um predador, ou o chamado de comida ao encontrar algo saboroso. Mas novas pesquisas vêm mudando essa percepção radicalmente.
Estudos com gravações de alta precisão e inteligência artificial revelaram que eles são capazes de combinar diferentes sons e gestos em sequências organizadas — como uma espécie de frase primata, com significado que muda conforme a ordem dos “termos”. Um mesmo som pode significar coisas diferentes dependendo de onde aparece na sequência, o que lembra muito a estrutura sintática da linguagem humana.
Essa habilidade de combinar sons é chamada de composicionalidade, e é considerada um dos pilares da linguagem como a conhecemos. Em outras palavras, os chimpanzés não apenas vocalizam: eles codificam ideias em sequências, com intenção e propósito.
Veja alguns exemplos registrados em campo:
Situação | Vocalização isolada | Combinação complexa | Significado interpretado |
---|---|---|---|
Perigo no alto | Grito curto agudo | Grito + grunhido arrastado | “Perigo vindo de cima” |
Comida descoberta | Estalo com a boca | Estalo + vocal grave repetido | “Tem comida aqui, venha!” |
Pedido de ajuda | Grito agudo | Grito + gesto de mão | “Preciso de apoio agora!” |
Esses padrões, quando analisados em conjunto, revelam um sistema de comunicação muito mais sofisticado do que se imaginava. E o mais fascinante: esse sistema não é fixo — ele muda conforme o contexto social e emocional.
Um passo rumo à linguagem?
Tudo isso levanta uma questão instigante: os chimpanzés estão em um estágio pré-linguístico da evolução? Para muitos cientistas, sim. A capacidade de construir “frases” com múltiplas partes, contextualizar mensagens e até adaptar o tom e a repetição com base na reação do interlocutor sugere um proto-sistema de linguagem, onde emoção, intenção e socialização se entrelaçam.
Essas descobertas reforçam a ideia de que a linguagem humana não surgiu do nada. Ela foi sendo construída, camada por camada, com base em estruturas já presentes em nossos ancestrais. E os chimpanzés são uma janela viva para esse passado.
Essa descoberta muda o jogo.
O que a ciência revelou sobre a linguagem dos chimpanzés
Imagine por um instante que você está na floresta, cercado pelo barulho da vida selvagem, tentando entender o que cada som significa — será um aviso? Um convite? Uma reclamação? Foi esse desafio que levou os pesquisadores do renomado Instituto Max Planck a passar anos gravando mais de 4.000 vocalizações de chimpanzés no Parque Nacional de Taï, na África.
Eles não estavam apenas ouvindo sons aleatórios, mas atrás de padrões ocultos, uma espécie de código secreto que poderia desvendar como esses primatas se expressam de maneira organizada. Para isso, usaram algoritmos de linguagem natural — a mesma tecnologia usada para decifrar nossos textos, tweets e até conversas no WhatsApp.
O que encontraram? Uma surpresa que balança muitas certezas: os chimpanzés combinam seus sons em pares fixos, chamados “bigrams” — como se tivessem pequenos blocos que, combinados, constroem frases com sentido. Essa repetição consistente, mesmo em contextos diferentes, não é obra do acaso, mas sim um sinal claro de intenção comunicativa. Ou seja, eles parecem escolher cuidadosamente como juntar os sons para passar uma mensagem específica, com começo, meio e fim.
Mais do que simples reações: cognição complexa e intencionalidade
O que isso revela sobre a mente dos chimpanzés? Que eles não são apenas criaturas que reagem ao ambiente como máquinas programadas, mas sim seres que pensam na estrutura da mensagem que querem passar. Essa é uma capacidade cognitiva profundamente sofisticada, que sugere uma inteligência social e comunicativa muito mais avançada do que a gente costuma imaginar.
Será que eles têm consciência do que estão dizendo? Que entendem o efeito que a mensagem terá sobre o outro? A ciência ainda não pode responder tudo, mas essas evidências indicam um caminho para um mundo onde a linha entre linguagem humana e primata é menos rígida do que se pensava.
Reflexão: o que isso nos diz sobre a origem da linguagem humana?
Se os chimpanzés já organizam sons em padrões com significado, será que a linguagem humana não passou por etapas similares? Talvez a nossa fala, tão cheia de nuances e regras gramaticais, seja apenas a evolução de um sistema primitivo que já existia em nossos ancestrais.
Essas descobertas desafiam a ideia de que a linguagem é uma característica exclusivamente humana — e abrem espaço para pensar que a comunicação complexa é uma construção social, um legado compartilhado com nossos parentes primatas.
Semelhanças entre linguagem dos chimpanzés e linguagem humana
Uma das descobertas mais fascinantes sobre a linguagem dos chimpanzés é que a ordem dos sons realmente importa — e isso é algo que nos conecta diretamente com a estrutura da nossa própria comunicação. Se você já percebeu que “o menino chutou a bola” não tem o mesmo sentido que “a bola chutou o menino”, vai se impressionar ao saber que os chimpanzés também dependem da sequência exata para que suas mensagens façam sentido.
Esse fenômeno é uma espécie de gramática primitiva, onde a combinação e posição dos sons criam significados diferentes. Eles não lançam sons ao acaso; existe uma organização clara e funcional que permite distinguir um aviso de perigo de um convite para brincar, por exemplo. Essa organização mostra que a comunicação deles tem regras — mesmo que simples — e que a ordem é essencial para o entendimento.
Prefixos e sufixos? Sim, e de forma surpreendente!
Mas não para por aí. Pesquisas recentes indicam que, em algumas situações, os chimpanzés usam sons iniciais que funcionam como alertas ou chamadas de atenção, quase como prefixos, preparando o ouvinte para o que vem a seguir. Já os sons no final da sequência agem como sufixos, trazendo uma espécie de conclusão ou indicando o tipo de resposta esperada.
Por exemplo, um som inicial pode servir para “chamar” os outros chimpanzés, enquanto o som final pode especificar se a situação é uma ameaça, uma oferta de alimento ou um pedido de ajuda. Isso é nada menos que uma organização estrutural das ideias, algo muito semelhante ao que fazemos ao acrescentar prefixos e sufixos nas palavras para mudar o sentido.
Evolução da linguagem ou um sistema paralelo?
Essas semelhanças intrigantes nos fazem questionar: será que estamos diante de um ancestral comum da nossa linguagem? Ou será que os chimpanzés desenvolveram um sistema paralelo, complexo e adaptado ao seu modo de vida?
Independentemente da resposta definitiva, o fato é que essas combinações de sons e sua estrutura organizada indicam que a comunicação deles não é apenas instintiva, mas que envolve processos cognitivos sofisticados para construir e transmitir significado — uma verdadeira ponte entre o instinto e a razão.
💡 Para refletir
Quando observamos esses padrões, percebemos o quanto a linguagem humana pode estar enraizada em algo muito antigo e compartilhado. Essa conexão entre nós e os chimpanzés não só nos aproxima como espécie, mas também nos inspira a olhar para a comunicação de uma forma mais ampla, valorizando os diferentes modos que a natureza criou para expressar o que sentimos, pensamos e precisamos.
Por que isso muda o que sabemos sobre a origem da linguagem
Uma ponte entre a comunicação animal e a linguagem humana: Essas descobertas sugerem que a linguagem não surgiu de repente com os humanos, mas foi evoluindo a partir de sistemas de comunicação complexos que já existiam em outros primatas.
Ou seja: a linguagem humana pode ser um refinamento do que nossos ancestrais já faziam há milhões de anos.
O que isso pode ensinar sobre o desenvolvimento da fala nas crianças?
Para quem é pai ou professor, vale a reflexão: o processo de aprendizado da linguagem nas crianças também começa com sons isolados, depois combinações, e só então frases completas. Ver isso em chimpanzés reforça o quanto nosso cérebro é moldado por padrões naturais e evolutivos.
Como levar esse conhecimento para a sala de aula ou para casa
Atividades e curiosidades para engajar crianças e jovens
Quer transformar essa descoberta em uma atividade divertida e educativa?
- Imite sons de animais e tente combinar diferentes sons para criar “frases”.
- Monte uma “gramática dos bichos” com os alunos ou filhos: o que um rugido + assobio pode significar?
- Explore vídeos documentais sobre comunicação animal e promova um debate.
Dicas de livros, vídeos e experiências educativas sobre o tema
- “Eu, Primata” – Frans de Waal
- Chimp Empire (Netflix) – Documentário sobre a vida dos chimpanzés
- Experiência: Gravar sons da natureza e criar uma “linguagem artificial” com as crianças
Conclusão: estamos mais próximos dos primatas do que imaginamos
A linguagem dos chimpanzés não é apenas um conjunto de sons — é um sistema organizado, com regras e padrões, muito mais próximo da linguagem humana do que imaginávamos.
Isso nos lembra que a ciência ainda tem muito a nos revelar sobre quem somos e de onde viemos.
🌱 Compartilhe esse artigo com outros pais, professores ou amantes da natureza. A curiosidade é o primeiro passo da educação.
💡 Dica Extra: Quer saber mais sobre como a linguagem evolui na natureza? Veja também esse artigo sobre comunicação animal.

Lana Sullivan é apaixonada pela vida em todas as suas formas. Escreve sobre animais, plantas, Oceanos e paleontologia, unindo curiosidade, respeito e encantamento pela natureza. Acredita que cada ser, passado ou presente, tem uma história que merece ser contada.